terça-feira, 30 de junho de 2009

deixei as mãos sob o pano preto
para que não visse mais
as armas dos meus próprios crimes.

terça-feira, 23 de junho de 2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009

antes que partas

a minha caveira podia estar descoberta
ao vento do deserto,
expondo os versos de um esqueleto
tão pouco poético,
os escaravelhos sagrados podem satisfazer-se
das sílabas que voam aqui tão perto,
e as crisálidas converter-se-ão,
depois de lagartas,
não em mariposas azuis,
mas em anjos de solidão,
antes que partas
à lonjura e à linha infinita da imensidão.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

tudo o que és

quando o pensamento se esvai como sangue
rubro e vivo, porém, incontido,
e pelos espaços entre os dedos escorre a areia
intemporal dos desertos irrefragáveis da vida,
da vida pura, da vida suja, da vida morta,
quando entre as nuvens vês a escuridão de um céu
sem lua, negro de horas cujo sol não abençoou,
quando a alma se te foge dos arrumos onde a guardaste,
cuidada, bem aprisionada, acondicionada nas estantes
desse armário infinito, de madeira roída pelos bichos
da memória que te corróem o cérebro exausto,
quando tudo te passa à frente à velocidade do metropolitano
do futuro e na tua cara correm os ventos quentes do abismo,
viras as costas à mortalidade, porque tudo já passou sem permissão,
porque tudo o que fizeste nunca mereceu perdão,
porque tudo o que és se condensa no espaço fechado de uma mão.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

luar

acordo no limiar do tempo
e na beira do lago de fogo
que ao debruçar me reflecte
os dias que perdi ao buscar-te.

acordo à alvorada escura
e no centro fulgurante do relâmpago
que me queima as lágrimas
e me marca a pele em brasa.

acordo ao raio perpendicular
e à luz divina do sol que passa as nuvens
e me ilumina a morte e o silêncio,
sedutoras imagens da noite e do luar.