quinta-feira, 19 de novembro de 2009

gotas de chuva

se me perguntares, um dia
se te desejo aqui sempre
apenas te poderei dizer, entre a respiração e a lágrima,
que mesmo que a chuva chore
sobre o meu corpo caído
numa rua sem nome, escondida na noite,
e que o frio do inverno
me cubra da pele tremente aos ossos,
cada gota de chuva seria amar-te ainda mais.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

uivo

o espelho é o meu inimigo mortal
a aparição, minha infiel revelação,
o espírito turvo, a madrugada revolta.
espera-me sempre o dia de amanhã
quando a noite começa.
nunca a noite dura a vida que devia
para poder cantar à lua infinita
as canções de amor,
em tom de lobo,
de uivo.

sábado, 26 de setembro de 2009

lagoa do fogo

da água nasce fogo,
quando os deuses dos nossos sonhos,
deixam sobre as ilhas o sublime toque
do vento que esculpe a terra e o mar.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

dialéctica da natureza

se o caminho não fosse duro e difícil, as nossas mãos não seriam tão fortes.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

revelação

eu sou o abismo.

domingo, 16 de agosto de 2009

- se -

se hoje fosse o último dia
chorava uma lágrima
que rolava enquanto, à distância
na curva, te perdia.

se hoje fosse a última noite,
mais não me restaria
além do sorriso desprendido,
mas tão sem-sentido.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

- sem título -

na relva húmida
os pés descalços.

terça-feira, 21 de julho de 2009

assalto

deito mãos ao céu que assalto,
contigo braços levantados,
ascenderemos à vida
que nos quiseram roubar.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

- sem título -

e, porém, o vazio liberta
como asas.
podes vaguear por todas
as ruas e as casas.

ou fingir-te ser e, pouco a pouco,
apenas morrer.

- sem título -

sinto sempre a tua falta quando acordo,
e da prisão de amar-te
que me priva da liberdade.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

vícios

viciei-me em cigarros depois de amar,
em vinho ao jantar,
viciei-me em comprimidos para dormir,
em cerveja para poder rir,

viciei-me no céu nublado e nos raios de luz que me fazem chorar,
viciei-me nas árvores que cobrem o manto alpino da serra
nas noites sem luar,
nas praias sem mar.

salvation

cleansing my sins
forever have I been
waiting salvation on my knees,
drinking your blood, sacred flesh
kissing my lips,
and though I perish,
I will never leave the flock,
for I am impriosioned between the walls
of the quarter's parish.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

versus

deixei para trás o julgamento
com ele o pensamento
deixei para trás as dores
com elas o contentamento.

os sonhos

ao longo do corredor estreito
comprimo-me e sonho contigo
num quarto de hotel com a luz a raiar p'la janela
em traços oblíquos de tinta rasgando o fumo
do cigarro denso que espessa o ar.

na porta do quarto número tal,
olhando para um lado e depois o outro,
bato os nós dos dedos e fulmina-me uma ferida
que o passado me cravou sem cicatriz à vista.

e o sonho esvai-se
quando o teu sorriso afinal é um grito.

terça-feira, 30 de junho de 2009

deixei as mãos sob o pano preto
para que não visse mais
as armas dos meus próprios crimes.

terça-feira, 23 de junho de 2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009

antes que partas

a minha caveira podia estar descoberta
ao vento do deserto,
expondo os versos de um esqueleto
tão pouco poético,
os escaravelhos sagrados podem satisfazer-se
das sílabas que voam aqui tão perto,
e as crisálidas converter-se-ão,
depois de lagartas,
não em mariposas azuis,
mas em anjos de solidão,
antes que partas
à lonjura e à linha infinita da imensidão.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

tudo o que és

quando o pensamento se esvai como sangue
rubro e vivo, porém, incontido,
e pelos espaços entre os dedos escorre a areia
intemporal dos desertos irrefragáveis da vida,
da vida pura, da vida suja, da vida morta,
quando entre as nuvens vês a escuridão de um céu
sem lua, negro de horas cujo sol não abençoou,
quando a alma se te foge dos arrumos onde a guardaste,
cuidada, bem aprisionada, acondicionada nas estantes
desse armário infinito, de madeira roída pelos bichos
da memória que te corróem o cérebro exausto,
quando tudo te passa à frente à velocidade do metropolitano
do futuro e na tua cara correm os ventos quentes do abismo,
viras as costas à mortalidade, porque tudo já passou sem permissão,
porque tudo o que fizeste nunca mereceu perdão,
porque tudo o que és se condensa no espaço fechado de uma mão.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

luar

acordo no limiar do tempo
e na beira do lago de fogo
que ao debruçar me reflecte
os dias que perdi ao buscar-te.

acordo à alvorada escura
e no centro fulgurante do relâmpago
que me queima as lágrimas
e me marca a pele em brasa.

acordo ao raio perpendicular
e à luz divina do sol que passa as nuvens
e me ilumina a morte e o silêncio,
sedutoras imagens da noite e do luar.

terça-feira, 26 de maio de 2009

vazia

como fosse esta noite
uma de inverno,
sendo verão.

como fossem flores
as pedras negras
cuspidas da boca de um vulcão.

como incandescente ficasse
a cratera do tempo.

como cheio fosse o verso
meticuloso e bem organizado
da poesia vazia.

lucifer

quando as veias pulsam chamas
e fazemos de nós instrumento do mundo
então as forças são divinas,
que deus és tu e eu e o resto.

e somos também os demónios
que portam a luz
e o fogo purificador
dos silêncios e cumplicidades
dos nossos confessionários.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

pureza

quando pouso no cinzeiro
o fumo dos dias, queimando a vida
lenta
serena
pouco ponderadamente,
dá-me uma vez mais o ar,

puro.

pousar

quando pouso em ti
os olhos e as mãos,
um sopro
rápido e um olhar,
quando pouso em ti
os lábios num beijo,
me levanto no ar,
... falta-me respirar.

terça-feira, 12 de maio de 2009

amiba

que posso fazer se o meu coração não rima?

sábado, 9 de maio de 2009

em chamas

ígneas são as palavras e os punhos da luta
dos homens mais fortes que vulcões.


temperatura nuclear
força telúrica capaz de fazer vibrar
os átomos e de lhes fazer saltar neutrões.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

-reverência-

quando vieres junto de mim, beijo-te
a palma da mão em reverência
que há quem nunca na vida inteira
tenha a digna experiência

de se conhecer ao espelho
dos olhos dos outros.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

abertura

quando nascem palavras não pedem licença
brotam em torrente, por vezes caótica,
ordenemo-las como pudermos
assim nos encontremos ao fundo das ruas por onde caminhamos.

ruas estreitas, longas porém,
onde nos invernos crescem poças de água pelo chão.
que marcam os passos até, minutos corridos, se evaporarem
sem aparente razão.