quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

a rapariga e a raposa

haverá no mundo poucas coisas que nos façam estremecer ante a maravilha.
porventura é até difícil dizer-lhes os nomes. bem sei que nos filmes, os nomes que não se dizem são os do mal puro, mas não é menos verdade que não se diz em vão o nome de deus.

num dia de primavera, em que o céu aberto abraçava aquela humidade que fica no cume das montanhas pela manhã e o sol teimava em se vir insinuando sobre a escuridão do inverno húmido, a poesia caminhou no nosso mundo e, como na mais bela pintura, sobre o verde da Serra, longos cabelos negros ondularam no suave vento que descia a encosta a norte. o cheiro a rosmaninho e os pontos vermelhos do medronho afirmam-se no fundo verdejante que nasce no suão mediterrânico.

quando ela se sentou numa pedra pediu à Arrábida que lhe contasse os segredos, que partilhasse as riquezas, como se quisesse ligar-se a cada pedra, cada gruta ou estalactite, cada pequena árvore ou grande carvalho. conta-me os teus segredos, pediu-lhe. e a Arrábida contou-lhos, num murmúrio secreto.

um murmúrio que era afinal cada uma das batidas do seu coração.

com as mãos sobre a pedra, e o cabelo desvendando um sorriso puro, sentiu mais profundo cada pulsar do ar, da terra, do mar.

uma raposa, sentou-se, algo hesitante, mesmo a seu lado. conta-me os teus segredos, disse-lhe. e a rapariga contou.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

crysis

esta é a guerra mais sangrenta,
cujas armas são nada mais nada menos
que o teu próprio pensamento.

este é o inverno financeiro e turbulento
que pagarás não em juros mas em sofrimento.

durará tanto quanto queiram as forças dos homens,
ou quanto possam? ainda não sei.

só sei, sim isso sei, que nunca cessa a resistência,
nunca encontram terras virgens desprotegidas,
que enquanto nos cegam, uns tantos rompem as vendas,
e a escuridão.

e certas batalhas ganham-se por se travar.

luta de classes

não há represas que contenham o caudal dos rios humanos.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

poética

em cada letra, a alma viva
e em cada verso o sangue.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

o que isto não é

não, isto não é um arranjo de letras.
embora legítimo fosse.
não, isto não um verso perfeito,
nem uma rima rica.
embora quisesse a rima deixar de ser pobre.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

chuva

com a chuva lá fora,
posso eu faltar aos versos,
ou as estrofes pulsantes ficarem molhadas pelo chão,
mas sei que a mim
não faltará jamais a poesia.

árvore frondosa, terra fértil,
que renasce da morte das folhas do outono,
e ganha a força do vento em meses de maresia.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

sopro

tu és o meu sopro.

é ainda e será sempre nos teus lábios
que morro em constantes explosões,
ou que vivo em apertos desmedidos.

é no teu peito que descanso,
que me deixo,
mas que saudavelmente me canso,
ofegante sereno pleno.

como o teu olhar me sustém o fôlego
e é simultaneamente o ar que respiro.

- sem título -

sob as pedras hoje
descansarão as águas antes de encherem os rios.

é outono, já?

é outono.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ao povo português

vencemos a fome,
vencemos o esforço e o suor,
a dor e o cansaço,
vencemos as obrigações,
as prisões.
vencemos os fascistas,
as torturas as censuras,
vencemos março, fizemos Abril.
não ficámos fechados
como quiseram os oportunistas,
antes abraçados
enchemos as ruas nunca assim vistas.

abrimos a golpes de machado o nosso futuro.

mas já antes viajámos, cortámos as vagas furiosas,
vencemos o mar,
cumprimos destinos,
fomos personagem de epopeia,
vencemos o vento da história que leva a poeira.

e hoje resta-nos vencer em terra,
fazer o destino acontecer,
para ver o nosso cravo crescer.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

ao povo soviético

quando viste o teu país destroçado,
as mulheres perdidas, os homens devastados,
quando viste o teu povo vergado, rastejando,
e chamaste a ti a força escondida do Ser Humano,
soubeste o preço em sangue da revolta,
da conquista do pão, cujo trigo em tua terra,
em teu trabalho ia crescendo.

soubeste o custo fatal da audácia,
e nos teus olhos brilharam os sonhos de todos os explorados,
dos corações e dos punhos agrilhoados.

quando empunhaste as armas da coragem e levantaste o rosto à vitória,
sabia-la longínqua, porém incontornável,
como o destino das aves que migram, sempre inexorável.
mesmo que uma, duas, dez ou vinte, tombem no caminho para a glória.

e tu tombaste, irmão,
todavia
a tua força é perpétua,
não como a onda, mas como a maré.

mesmo sob as garras das bestas, das águias cobardes,
levaste mais alto a bandeira vermelha,
do que soubera possível a soma até aí de toda a dignidade,

se alguma coisa perdeste nessa guerra,
não foi a vida, irmão,
foi a prisão.

para que possamos hoje, como então,
dizer não.

e abrir de verdade as portas da liberdade.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

trovões de guerra

é um corpo tombado no chão,
e alguém debruçado sobre a morte,
é um soldado feito ladrão,
ao longe,uma criança de arma na mão.

da janela próxima, um grito de revolta, um choro de lamento,
ao longe um milhão de lágrimas de tormento.

matam gente estes trovões e as almas torturadas ficam aprisionadas nos caixões.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

- sem título -

o meu pensamento afoga-se,
como em água.
porém em tempo.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

setembro

eis que torna setembro e a vindima
eis que o sol brilha alto depois do verão
e eis que os jovens
novamante do chão levantam um novo mundo.

esses jovens cuja idade não importa
que nas mãos trazem o futuro.

e se pode tardar esse futuro, é certo,
tão certo é que começará em setembro.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

palavras

eu podia fazer acrobacias,
torcer ou contorcer,
atirá-las ao alto,
buscá-las na listagem finita a que chamam dicionário,
ordená-las genialmente,
ou mesmo algoritmicamente,

e de que vale um som sem o sangue vivo?

escrevo-as com dor, amor, raiva ou estupidez,
grito-as num papel revolucionário,
vomito-as pela caneta da agonia,
mas garanto que cada letra delas é
...sanguínea.
...autêntica.
...brutal.
...violenta.
...suave.

...real.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

- sem título -

se alguma vez escrever um poema
terá o cheiro dos dias de chuva em agosto.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

cada vez mais (des)complexo

viaja eternamente
suave
ternamente.
ignoras as rimas
a vida
e principalmente
ignora rotundamente
os segundos, minutos, horas e anos,
que orbitam a tua mente.

terça-feira, 13 de julho de 2010

quando vierem despejar-te aos pés o mundo,
reduziste-te ao pó dos outros.

sangue

hoje precisava de uma alma.
e há mesmo quem diga que uma me falta todos os dias.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Seppuku

Com a chegada de Março, as cerejeiras de inverno começavam lentamente a despedir-se das flores que as cobriram no princípio do fim do frio e da neve. A alvura começara a diluir-se para se abrir em verdes pedaços de terra que surgiam. Sob a copa aberta de uma cerejeira, segurou o cabo da espada com a mão direita e a bainha e a guarda com a mão esquerda.

Solenemente, contemplou, inclinando-se para baixo, o corpo e o seu sopro sagrado que em breve cessaria. Dali, se via ainda o prado onde morrera um e outro. Haviam morrido, porém ainda teriam a liberdade de partir com dignidade. No campo da batalha, agora coberto de um manto de sangue sobre o gelo e a neve, jaziam inúmeros os corpos já vazios. Embora com mais perdas, a batalha havia sido ganha, o inimigo retirara-se para não mais voltar. Igualmente, o seu líder ficara para sempre de peito aberto até que venha a apodrecer sob a terra.

Por isso mesmo, embora vencedores, a vida não teria agora a quem servir. E quem vive para servir, deixa de viver quando desvanece esse objectivo. Não é opção, é naturalidade. À medida que a primeira flor de cerejeira caiu da copa rósea, sentiram essa sua incontornável natureza. A flor não escolhera cair.

A mão direita cortaria agora a quadragésima sexta cabeça com a lâmina já baça do sangue que, frio, se espessava. Por detrás do homem ajoelhado, levantou a lâmina paralela ao solo sobre os seus ombros e por detrás do seu próprio pescoço. Quando o ajoelhado se penetrou e esventrou com a faca até às costelas, com a mão direita apenas, fez lançar sobre o pescoço num só golpe rápido e poderoso, a lâmina afiada do destino. Pendeu o corpo para frente, vazio, com a pele do pescoço segurando a cabeça ao tronco. Sacudiu o sangue vívido da lâmina, contemplando os quarenta e seis mortos esvaídos ao longo do campo branco e gelado.

Depois, sem ter quem lhe retribuísse a digna homenagem, tornou a embainhar a sua espada. Puxou com a mão direita o punhal e com o gume virado para os seus olhos, fê-lo entrar no seu corpo, sereno. Quando tombou, ainda viu tocar no chão a pequena flor, mesmo a seu lado.

- sem título -

sussurro.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

ver no escuro

todos nós podemos caminhar no escuro,
pelas vielas perdidas,
pelas ruas escondidas,
caminhar sob a chuva fria,
e sentir escorrer-nos pela fronte a água,
sentir nos lábios o sabor mais puro,
todos nós podemos,
podemos trilhar as vias da tristeza,
da dureza,
saltar o precipício e encarar nua
a morte e o futuro.
podemos caminhar sobre a terra ardida,
queimar os pés nas brasas que antecedem as cinzas,
ou voar pelo céu sem estrelas, navegar sem uma constelação,
e por aí nos perdermos sem sextante ou astrolábio.
todos é certo
podemos caminhar.
contudo,
espero,
que só chegue quem queira mesmo mesmo chegar.

sábado, 26 de junho de 2010

eu

o passado é para sempre.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

- sem título -

é a nossa inteligência colectiva que nos liberta.
a nossa inteligência colectiva é, porém, precisamente o que nos prende.

- levantados -

(o riso balofo e a gargalhada da burguesia,
serão a bom tempo passada fantasia)

ora calem os imbecis!
a história não acaba porque o decretais,
nem farão de nossas pátrias vossos quintais.

deixemos afundar-se nela própria a realidade,
mas enterremos-lhe nossos braços, nossas mãos,
assim dos escombros nos ergueremos e a nossos irmãos.

se...

se vieres morder-me os lábios,
principalmente o inferior,
embora me sufoque o ar, fique vazio,
encherei de outra força o peito,
ainda maior.

se me passares nas costas quentes
os dedos, lentos leves,
ficarei ansiando no peito o céu,
que trarás nos beijos um dia,
na boca, na língua, em mim.

terça-feira, 22 de junho de 2010

se...

se a noite se derramasse 

por sobre o meu corpo,

me cobrisse de negro manto,

então a luz do dia 

e as cores que pintam tudo de branco

seriam feridas abertas nos meus olhos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

se...

se eu fosse uma tempestade.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

- sem título -

nunca a morte poderia separar aquilo que a vida uniu,
and yet, pousar-te-ei na testa vívida todos os beijos do mundo.
nunca seriam demais os abraços, os braços enlaçados, para te agarrar
para que não possas escapar do meu mundo, mesmo que desistas de lhe pertencer.
dá-me um beijo, dearest.
vives grande, como sempre.

labirinto

quando estamos juntos,
todos os caminhos estão certos.
que unidos saberemos
onde virar a cada bifurcação.
unidos venceremos
o labirinto e a confusão.
e antes escolher o trilho errado convosco a meu lado,
que escolher sozinho o caminho acertado.

terça-feira, 8 de junho de 2010

- sem título -

quando estou doente, adoecem-me as palavras
e todos os versos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

contra corrente #2

presente outra vez. Parabéns à revista, obrigado a todos os que a promovem e aos que nela participam.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

sem título

hoje tenho as mãos atadas,
escorre-me aquele suor frio de te amar,
como na mais pura atmosfera ter falta de ar,
tenho-as atadas como um prisioneiro,
a quem não apetece escapar.

sábado, 1 de maio de 2010

Maio

maio é o mês da gente
da luta, palavra armada de punhos
do povo operário que caminha lá na frente.
maio é o mês do sol,
do que realmente brilha para todos,
tão intenso que todo o mundo sente.

maio é o mês de abril.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

protege-me

dentro destas muralhas em que me prendo
o mundo é escuro e a humidade penetra os ossos,
como aquele frio que faz doer o corpo aos velhotes.

domingo, 18 de abril de 2010

sem título

tudo o que é efémero é eterno.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

sem título

mesmo quando pensas que morreste,
independentemente de para quem julgas tê-lo feito,
permaneces. porque é indelével a marca, a impressão,
que vamos deixando nas vidas dos outros.

e o que é mais estranho é que nada deixa mais forte marca
na vida, do que a morte.

e nada ocupa mais espaço no peito do que o vazio.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

sem título

sinto o teu beijo
é uma gota de água morna,
à temperatura de maio.

junto ao rio,
passam muitas gotas de água,
mas essas como fevereiro, frio.

terça-feira, 30 de março de 2010

vento III

esse poema do vento,
que te leva o ar do peito,
suspiro

esse fôlego perdido,
esse beijo fugaz do tempo,
vazio

levou-nos os poemas, os motes, as estrofes.
deixou-nos a poesia viva, como a mais intensa das mortes.

vento II

sopras forte ao meu ouvido os avisos
os cuidados, sopras as aventuras e os descuidos,
e acima de tudo, levas-me no sopro a viajar.

e enquanto voamos juntos, eu e tu, vento um só.
escapam-se-me todas as palavras, como escapa o tempo
à velocidade da luz.

vento

não somos mais afinal que pequenas tempestades.
cada um, um tempestuoso ciclone.

e a nossa primavera, a que traz a bonança e a calmaria,
vem sempre necessariamente depois de nós.

quinta-feira, 18 de março de 2010

- sem título -

o vazio é o que mais nos enche.

quarta-feira, 10 de março de 2010

(...)

ainda sinto o teu toque ligeiro, como beijos.
ainda vejo ao meu lado na cama o teu pescoço despido,
e os lençóis ainda desenham a tua orografia, porém vazios.

ainda me escorre dos pulmões o ar como a água das torrentes,
e me fico quase morto, nunca tão vivo.

todo o momento de amor é infinto
porquanto dura além do tempo,
ou corre pleno, potente,
à margem dele.

sexta-feira, 5 de março de 2010

o vazio da procura

quando levanto as pontas da alma à procura de volume,
sente-se apenas o vazio comburente da ansiedade.
tal como tu quando olhas para ambos os lados da rua
em busca inconsciente de alguém, que não sabes quem,
apenas encontras a resposta ecoante da tua solidão.

quando vieres procurando, não pousará o pó que te envolve.
e ninguém pode verdadeiramente ver no meio da poeira intensa,
e ninguém pode realmente ser visto no centro do furacão.

e poderás conjugar astros de jornais, deitar sortes nas linhas da tua mão,
que é certo enquanto procuras não encontrarás.

quarta-feira, 3 de março de 2010

através do nevoeiro

eu vi que me viste,
mesmo através da chuva densa
e do nevoeiro,
porque me olhaste
além das imagens difusas e das fotografias,
porque me olhaste
além do escuro da noite e do preconceito,
porque afinal,
me olhaste nos olhos.

segunda-feira, 1 de março de 2010

- sem título -

hoje as nuvens estão lá mas não se vêem.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

a primeira vez

a minha primeira tentativa de inclusão em publicação, deu frutos.
tenho um texto na página 32.
obrigado e saudações à revista "contra-corrente" (http://www.contracorrente.pt.vu)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

- sem título -

sob a linha ténue da luz que passa da janela para dentro,
ainda vejo o teu corpo afastar-se, sem sons,
como uma sombra longínqua.
o cigarro apagado incensa ainda o quarto
e a cama onde, como seda, me cobriste com teu corpo,
está quente, como as manhãs de primavera.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

gaya

se existisse um espelho, no lugar da lua,
a terra toda estremeceria.
e quem sabe não são os mares,
esse manto salino que a cobre,
as lágrimas caídas
de quem pariu inadvertidamente traição?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

vazio

faço minhas as palavras do silêncio
e calo os gritos do tempo,
faço meus os gestos do vazio
e quedo-me no centro do universo.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

à custa das lágrimas

sob os sorrisos dessa gente,
falsa,
escondem-se as lágrimas das gentes,
verdadeiras.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

as duas faces dos anjos

apenas à noite.
o branco revela a sua verdadeira cor
e é negra.

como as asas alvas de um anjo,
tingidas pela vida escura dos mortos,
da qual caem penas de breu, lenta e inexoravelmente
como de uma ferida aberta o sangue .

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

nada é mais turvo que o ego
que tolda a vista de nós próprios

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

os poetas dos meus dias

o verdadeiro poeta dos meus dias
escolhe as palavras como um crivo
dentre as páginas imensas do dicionário,

o verdadeiro poeta dos meus dias
faz dos versos flores vazias
tanto quanto as rosas eternas que ornam um campanário,

o verdadeiro poeta dos meus dias
usa o mais inaudito e inescrito verbo
e mascara assim o ego ordinário,

o verdadeiro poeta dos meus dias
matou as torrentes, calou os ventos,
e vive nesse estreito gabinete de ar condicionado,
à espera que as palavras lhe surjam caras,
requintadas, despojadas de ira, amor ou ironia.

o verdadeiro poeta dos meus dias
versa em rimas sobre os clássicos,
brada aos céus, ou aos amores,
menos à terra, terrena e rente
como uma erva daninha, feia e raquítica.

o verdadeiro poeta dos meus dias
silenciou os choros e os gritos,
trouxe hipérboles mestástases sinédoques metonímias
e outras ilusões.

e eis que na busca pretensiosa de o não ser,
me infectam os poetas de hoje,
me contagiam os versos,
e os pulmões.

domingo, 10 de janeiro de 2010

as minhas palavras são a sombra da poesia

as árvores vigiam-me o caminho,
retorcidas, verdejantes
com os líquenes sobre os braços
debruçados, contorcidos.

as árvores se fossem versos,
seriam certamente poesia,
e apenas na sua sombra
as minhas palavras viveriam.